Entrevista: Resistência Reformada, sincretismo no metal extremo

Foto: Patricia Vera


“Sabe o que é ser radical? Ser radical é andar consciente o tempo todo. Encarar a realidade nua e crua como ela é e com plena consciência”, afirma o baixista Rodrigo Gomes. É com esta frase que estimulo a ler esta entrevista com a banda Resistência Reformada.

 Formada em 2012 em Palmas/TO, tem uma proposta de tocar metal extremo com sincretismo de estilos musicais e letras que retratam o que vivenciam no dia-a-dia. Tem como vocalista o Gabriel Rosa (23), na guitarra o Rafael Silva (23), Felipe Zonta (17) no comando das baquetas e no baixo Rodrigo Gomes (40). Recentemente a banda lançou a música “Evangelho Carnal” para audição no Palco MP3 que pode ser conferida no link: http://palcomp3.com/resistenciareformada/

Confira a entrevista com os membros da Resistência Reformada a seguir:

Inforock: Primeiro gostaria que falassem como surgiu o interesse de criar a banda e a ideia do nome Resistência Reformada.

Rodrigo: A banda foi um sonho que sempre tive. Cheguei em Palmas em 1992 e a primeira banda de rock que tinha aqui em Palmas se chamava Arkanus. Nós tocamos em 1992 em frente a Secretaria da Fazenda, onde era a antiga rodoviária de Palmas. De lá para cá eu tive vários projetos, mas sempre frustrado, porque eu nunca pude fazer algo assim que era aquilo que eu almejava, com pessoas corretas. Durante 10 anos, eu fiquei sonhando com essa banda e orando a Deus que colocassem as pessoas corretas no lugar. 

No início de 2012, eu conheci o Gabriel Rosa através do meu filho Gustavo, pois eles são amigos, e nós começamos a ensaiar. Primeira coisa que a gente fez foi  um churrasco na minha casa e nesse churrasco, a gente colocou o que a gente queria fazer, qual era nosso desejo.  A partir desse churrasco, a gente construiu a banda mais alguns amigos e nós começamos a ensaiar na 603 norte. De lá para cá, nós já fizemos alguns shows e nós já tivemos uma alternância muito grande na bateria. Hoje nós estamos no sétimo e definitivo baterista que é o Felipe, que antes de ser baterista era tecladista da banda. Já o Rafael era nosso amigo, sempre ia a nossos ensaios e nós não tínhamos uma segunda guitarra, então a guitarra dele entrou primeiro na banda para garantir vaga.

Rafael: O guitarrista queria tocar, mas não tinha guitarra e eu acabei oferecendo a minha e eu tinha acabado de comprar ela. Aí eu falei “pô, nunca vi o som da minha guitarra”, ai ele lá querendo tocar e não tinha, daí falei ,“ pô, mano , pega aí”, aí ela entrou na banda primeiro que eu.

Inforock: Qual a mensagem que a Resistência Reformada como banda quer passar ao público?

Rodrigo: Nós somos músicos cristãos e entendemos que o cristianismo perdeu muito da essência dele. O momento que hoje o cristianismo vive não é muito diferente de quando houve a reforma protestante, naquele momento, o grande cisma era a venda de indulgências, hoje a indulgência mudou de palavra, mas continua a mesma coisa no sentido de que as pessoas precisam comprar a sua passagem para o céu.  Então a gente vê um grande comércio em relação ao cristianismo, e a Resistência Reformada vem com esse propósito, de “bater de frente” com essa estrutura mercantil que está institucionalizado e que tem causado escândalos, afastado as pessoas. A mensagem de Jesus é o amor, é uma mensagem simples, é uma mensagem que aproxima as pessoas e que não divide e que vem trazer uma nova proposta de vida. Nós somos quatro rapazes de cara limpa que não precisam de nenhum subterfúgio artificial para a gente fugir da realidade. Sabe o que é ser radical? Ser radical é andar consciente o tempo todo. Encarar a realidade nua e crua como ela é e com plena consciência. Eu não preciso fugir desta realidade, eu bato de frente com essa realidade, porque a gente quer ter essa racionalidade o tempo todo.

Banda é família, é uma amizade que existe entre nós e quando existe amizade também tem intimidade, quando tem intimidade a gente às vezes se magoa uns com os outros né?! Porque a intimidade proporciona isso, porque quando a gente ama, a gente quer o melhor e às vezes a gente passa dessa barreira e se machuca, mas sabemos pedir perdão, este é o grande diferencial. O perdão, o respeito e o amor. Muitas bandas acabam porque perdem essa essência e, como cristão, acho que é a grande tônica disso tudo é o amor e o perdão, entender o outro como ele é, isso tem sido o elo da banda.

Foto: Patricia Vera

Inforock: Os integrantes da Resistência Reformada tem diferentes idades, dos 17 aos 40 anos, como é isso para você, Rodrigo, o mais experiente do grupo?

Rodrigo: Digo que a juventude é um estado de espírito e o rock proporciona isso. Ele rompe com esses paradigmas de idade. Eu comecei a gostar de ouvir metal em 1985, no primeiro Rock In Rio que apareceu na televisão, quando eu vi o Ozzy Osbourne na TV, eu falei “ rapaz é isso que eu quero!”. Eu morava em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, lá tem a cena metal mais forte. Estou perseguindo esse sonho até hoje. Tenho 40 anos, já tenho minha família constituída, uma profissão, mas muito da juventude continua firme, só que agora a gente tem mais experiência e um pouco mais de pé no chão . Então eu acho que essa experiência ajuda na banda que conseguimos focar em alguns alvos e chegar mais rápido, pois a gente não comete o mesmo erro duas vezes.

Rodrigo Gomes. Foto: Patricia Vera


Inforock: Gostaria de saber como foram as primeiras apresentações de vocês, tanto em locais típicos da galera rocker ou outro mais voltado para a religião de vocês.

Gabriel Rosa: A primeira apresentação mesmo foi na presbiteriana, né?!

Rodrigo: Foi num evento chamado “ Blitz da Salvação”, que era um evento de assistência social lá nas arnos,  e tivemos a oportunidade fazer nossa primeira apresentação lá e nós fomos muito bem recebidos, com bastante carinho. As pessoas entendem que nossa proposta sonora é um veículo e não um fim, um veículo para a gente elevar essa nossa mensagem.

Gabriel Rosa: Aí a gente tocou um “ rockzão” pesado e  a gente viu a  galera querendo “bater cabeça” e outros acabaram não resistindo e tal, foi bem legal.

Rodrigo: Lá no Kabanas, a primeira impressão que eu tive o tal dito “ público do rock” é muito intimista, então a gente via as pessoas meio indiferentes. Estavam ali para ouvir música, mas não com o intuito de curtir música e interagir com a música. Para quem é músico, você tocar para uma plateia que não interage é frustrante. Quem interagiu com a gente foram os nossos amigos que já conhecem o nosso trabalho e estavam ali. O público a gente viu sentado nas mesas, curtindo de lá, mas o ambiente ali é um bar em que a música é um acessório, não é o principal, então não é aquele lugar que eu saio de casa com intuito para ir a um show. Estamos atrás de uma plateia visceral como a gente é e que percebeu como nós doamos. A gente toca como se fosse a última vez sempre, dar sempre o nosso melhor.

Gabriel Rosa: Seja com 100 ou com mil, 20, 30 pessoas, a gente toca com sentimento para falar a verdade que acreditamos e isso nos fortalece a cada dia.

Rodrigo: A gente agita do mesmo jeito. Com 5 pessoas ou 500, a performance não muda em nada. As pessoas percebem a sinceridade de quando você faz uma coisa com o coração. O fato de a gente ser músico e cristão fazendo música extrema, são dois paradigmas que tem que serem quebrados. A gente já tem uma resistência dentro do próprio cristianismo e muito mais forte por ser cristão, então sofremos muito preconceito de todos os lados, e por sofrer isso, entendemos a dor das pessoas.


Apresentação da Resistência Reformada no Kabana's Bar


Inforock: Gostaria de saber que bandas vocês curtem dentro do metal extremo e fora dele?

Rodrigo: Eu toco música extrema, mas eu não ouço música extrema o tempo todo. Se eu te disser o que eu gosto mesmo, é de rock progressivo. Amo jazz. É aquilo que escuto sempre e tenho inspiração para compor. Gosto de Supertramp, Yes, de uma banda inglesa chamada Camel, Black Sabbath também é básico, eu cresci ouvindo isso. Sempre fui fã do Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin.  Do som mais pesado, eu gosto muito de Mortification, acho que é uma banda que sintetiza tudo aquilo que entendo de som pesado. No Brasil, o Antidemon tem feito um trabalho muito bacana com o pastor Batista e hoje é uma das bandas que tem percorrido o mundo todo, fazendo turnê mundial, no underground, sem estrelismo nenhum.

Gabriel Rosa: O interessante da Resistência é que cada um tem seu estilo e devido a isso, a gente coloca o estilo de cada um na música. Você pode perceber isso na nossa música, influências de sons antigos e mais atuais. Já as bandas que eu gosto são as bandas de death metal, metal core hardcore também, então é  Lost in Hate, Billy the Kid, bandas da atualidade que curto pra caramba. Eu também gosto das músicas mais leves também, quando quero dar uma relaxada na cabeça, escuto um rock leve. Curto reggae e rap pra caramba, então são esses ritmos que gosto mesmo.

Rafael: Eu sou meio “liquidificador” também. Eu curto quase todos os estilos dentro do som pesado. Curto muito death metal na linha do Sepultura e do Krisiun. Gosto bastante de hardcore também estilo Rodox. As influências para o Resistência Reformada, eu tiro mais do death metal e metalcore e por aí a gente vai.

Felipe: Curto todos os estilos. Sou muito fã de alternativo, mas para a Resistência eu curto bastante metalcore que Augusts Burns Red, For Today, pois esses caras são minhas influências.  Também curto um pouco de Antidemon e Death.


Felipe Zonta. Foto: Patricia Vera

 Inforock: Queria que vocês explicassem o porquê de não ter tocado no Burrada Festival, um dos maiores eventos do Tocantins, pois a Resistência Reformada estavam no cartaz oficial e não foi divulgado o cancelamento do show e até eu fiquei esperando a apresentação de vocês, mas quem abriu o festival foi a Heresia ( antiga Equação).

Rodrigo: A gente tem senso crítico. Quando somos músicos, prezamos pela qualidade. A nossa apresentação no Slack Corujão deixou muito a desejar. Todos nós de alguma forma falhamos e isso nos causou uma preocupação.  O Burrada seria um passo muito grande para aquele nosso momento e então nós decidimos como banda parar, nos demos um tempo. Desse tempo para cá, nós intensificamos nossos ensaios, nós dedicamos mais como músicos e a gente decidiu que estava na hora de dar uma virada na página da banda, parar com amadorismo e curtição, agora é focar no que a gente quer. Direcionamos o foco para o estúdio, gravar a nossa primeira música que é “Evangelho Carnal”.

Rafael: Muitas pessoas falaram que a gente não devia ter feito aquilo e tal, que desmarcamos em cima da hora, mas teve gente que falou que não avisamos ao organizador do evento, e essa pessoa teve informação errada , pois nós avisamos 15 dias antes.

Rodrigo: O Bento é meu amigo pessoal, e eu avisei a ele, “ Bento, nós não estamos a altura da qualidade do seu festival, e em respeito a qualidade dele, nós não vamos tocar, por causa desse e daquele motivo. Seu festival chegou a um ponto que não é qualquer banda que pode chegar lá e tocar. Nós temos senso crítico e tivemos a humildade. Se fôssemos pretensiosos, nós iríamos tocar, mas a gente entendeu que não era o momento. Ia prejudicar nossa imagem e a do festival.

Rafael Silva. Foto: Patricia Vera

Inforock: Em relação à música que vocês divulgaram, “ Evangelho Carnal”, quem iniciou a composição dela e qual a recepção do público que vocês estão tendo?

Gabriel Rosa: A composição de “ Evangelho Carnal”, das músicas da Resistência na verdade, é chegar alguém com um riff e depois outro com um riff também e aí a gente vai juntando a ideia, na hora mesmo vamos começando a colocar a letra, no ensaio mesmo. Aí depois eu só fico com o trabalho de acrescentar mais coisas, vamos juntando e nos perguntando sobre o que estamos achando disso.

 A “Evangelho Carnal” foi isso, o princípio dessa música, na verdade foi a primeira música da banda, era no intuito de falar de uma época que estava surgindo muitas críticas pelo meio cristão, os crentes estão aí para roubar e essas coisas. As pessoas estavam julgando dessa seguinte forma e na verdade, a Evangelho Carnal fala sobre os falsos profetas, que são aquelas pessoas que lucram com o evangelho e a gente bate de frente com isso e que todos os cristãos não são iguais.

A galera está curtindo o som, a ideia da música, a levada que nós pegamos e é isso.

Gabriel Rosa. Foto: Patricia Vera

Inforock: Agradeço a vocês pela entrevista. Quais são os próximos planos da banda?

Gabriel Rosa: Estamos planejando um clipe para a música “ Evangelho Carnal” também, um clipe que vai ser bem maneiro. A ideia que estamos querendo colocar vai ser uma que vai “entrar de frente” com os faltos profetas.  O EP estamos querendo realizar também.

Rodrigo: Tudo é muito difícil hoje, tudo é muito caro. Nós queremos ver uma ideia que, no tempo do vinil, o primeiro disco do Sepultura foi um Split, um lado era o Sepultura com o “Bestial Devastation” e o outro lado era o Overdose, então é uma forma de economizar custos. O formato hoje é diferente, não tem o lado A e o B, mas queríamos faze algo diferente para trazer essa referência antiga. Nós temos uma banda em mente para fazer esse Split com a gente, onde cada uma entraria com três músicas e nós faríamos um EP no preço popular, no sentido só de cobrir os custos, um EP a R$5 é viável e também sobraria alguma coisa para a gente reinvestir.

Contatos:

Página no Facebook:  https://www.facebook.com/resistenciareformada
E-mail: resistenciareformada@gmail.com
Fone: (63)9274-7739
Palco Mp3: http://palcomp3.com/resistenciareformada/
Site: http://www.resistenciareformada.com/

4 comentários:

  1. Curti muito a proposta e as idéias da banda. Continuem nessa manos!
    Melck (Clamor)

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  2. Gostei muito da musica ea ideia da banda

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  3. Melck ouvindo isso de você é muito gratificante, pois considero a Clamor como umas das melhores bandas de metal extremo no Tocantins.
    Obrigado galera pelo apoio, logo estaremos com um som novo no ar.

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